Introdução: a era digital na saúde e seus desafios
A transformação digital revolucionou o setor de saúde, trazendo avanços notáveis no diagnóstico, tratamento e gestão de pacientes. Prontuários eletrônicos, telemedicina, dispositivos de monitoramento remoto e inteligência artificial são apenas algumas das inovações que otimizam o atendimento e melhoram a qualidade de vida. No entanto, essa digitalização massiva de dados de saúde, que são extremamente sensíveis e valiosos, também abriu portas para novas e complexas ameaças à segurança da informação.
Neste artigo, exploraremos a importância crítica da segurança de dados para empresas do setor de saúde, analisando o cenário atual de ameaças, as regulamentações vigentes, os impactos devastadores das violações e as melhores práticas para proteger as informações dos pacientes e a integridade das instituições de saúde.
O cenário atual de ameaças: um alvo valioso para cibercriminosos
O setor de saúde se tornou um dos alvos preferenciais para ataques cibernéticos, e os números comprovam essa tendência alarmante. Em 2024, o setor de saúde liderou o ranking de violações de dados, com um custo médio por incidente significativamente maior do que em outras indústrias. De acordo com um relatório da IBM, o custo médio de uma violação de dados na saúde atingiu a marca de US$ 7,42 milhões, um valor que reflete não apenas as perdas financeiras diretas, mas também os danos à reputação, as multas regulatórias e os custos de remediação.
No Brasil, a situação não é diferente. O custo médio de uma violação de dados em 2025 saltou para R$ 7,19 milhões, um aumento de 6,5% em relação ao ano anterior. Esses números demonstram a crescente sofisticação e a persistência dos cibercriminosos, que veem nos dados de saúde uma oportunidade de lucro fácil, seja através da venda de informações no mercado negro ou da extorsão por meio de ataques de ransomware.
A evolução temporal das violações demonstra uma tendência preocupante: de 216 violações em 2010 para 566 em 2024, um crescimento que evidencia não apenas o aumento da digitalização, mas também a sofisticação crescente dos ataques cibernéticos direcionados ao setor de saúde.
Regulamentações e compliance
Diante do crescente número de violações de dados, governos e agências reguladoras em todo o mundo implementaram leis rigorosas para proteger as informações dos pacientes e responsabilizar as instituições de saúde. No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), em vigor desde 2020, estabelece um marco legal para o tratamento de dados pessoais, incluindo os dados de saúde, que são classificados como sensíveis e exigem um nível ainda maior de proteção.
A LGPD define os direitos dos titulares dos dados, as obrigações das empresas que tratam esses dados e as penalidades para o não cumprimento, que podem chegar a 2% do faturamento da empresa, limitadas a R$ 50 milhões por infração. Além da LGPD, o setor de saúde também deve observar as normas do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que estabelecem diretrizes específicas para a segurança de prontuários eletrônicos e a troca de informações entre operadoras de planos de saúde.
Principais Pontos da LGPD na Saúde:
- Consentimento Explícito: A coleta e o tratamento de dados de saúde exigem o consentimento explícito e informado do paciente, que deve ser informado sobre a finalidade do uso de seus dados.
- Segurança da Informação: As instituições de saúde devem adotar medidas técnicas e administrativas para proteger os dados contra acessos não autorizados, vazamentos e outros incidentes de segurança.
- Notificação de Incidentes: Em caso de violação de dados, a instituição de saúde é obrigada a notificar a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) e os titulares dos dados em um prazo razoável.
- Direitos dos Titulares: Os pacientes têm o direito de acessar, corrigir, anonimizar, bloquear ou eliminar seus dados, além de solicitar a portabilidade para outro serviço de saúde.
Casos reais: as consequências das violações de dados
Os números e as regulamentações podem parecer abstratos, mas os casos reais de violações de dados na saúde revelam o impacto devastador que esses incidentes podem ter sobre pacientes, hospitais e a sociedade como um todo.
O ataque de ransomware à change healthcare (2024)
O ataque de ransomware à Change Healthcare, uma subsidiária da UnitedHealth Group, em fevereiro de 2024, é considerado o maior ataque cibernético da história do setor de saúde. O incidente afetou 192,7 milhões de pessoas e teve um custo estimado de US$ 2,457 bilhões. O ataque interrompeu as operações de saúde em escala nacional, comprometendo o acesso dos pacientes aos cuidados de saúde e afetando centenas de milhares de consultórios médicos.
O vazamento de dados do Ministério da Saúde (2020)
No final de 2020, o Brasil foi surpreendido pelo vazamento da base cadastral do Ministério da Saúde, que expôs os dados de 243 milhões de cidadãos na internet. O número, superior à população brasileira na época, incluía dados de pessoas já falecidas. O incidente expôs a fragilidade dos sistemas governamentais e a necessidade de investimentos urgentes em segurança da informação.
O ataque de ransomware WannaCry ao NHS (2017)
Em maio de 2017, o ataque de ransomware WannaCry afetou mais de 60 hospitais do National Health Service (NHS) no Reino Unido, além de milhares de outras organizações em todo o mundo. O ataque paralisou os sistemas de hospitais, forçando o cancelamento de cirurgias, a transferência de pacientes e o retorno a prontuários de papel. O incidente demonstrou como um ataque cibernético pode ter consequências diretas na prestação de cuidados de saúde e na segurança dos pacientes.
Melhores práticas para a segurança de dados na saúde
Diante de um cenário de ameaças cada vez mais complexo, as empresas do setor de saúde precisam adotar uma abordagem proativa e multifacetada para a segurança de dados. Algumas das melhores práticas incluem:
- Criptografia de Dados: Criptografar todos os dados de saúde, tanto em repouso (armazenados em servidores e bancos de dados) quanto em trânsito (transmitidos pela rede), é fundamental para proteger as informações contra acessos não autorizados.
- Controle de Acesso Rigoroso: Implementar um sistema de controle de acesso baseado em funções (RBAC), garantindo que apenas profissionais autorizados tenham acesso aos dados dos pacientes, e apenas às informações estritamente necessárias para o desempenho de suas funções.
- Treinamento e Conscientização: Realizar treinamentos regulares com todos os colaboradores sobre as políticas de segurança da informação, os riscos de ataques de phishing e a importância de senhas fortes e seguras.
- Monitoramento Contínuo: Utilizar ferramentas de monitoramento de segurança para detectar atividades suspeitas na rede, tentativas de acesso não autorizado e outros possíveis incidentes de segurança em tempo real.
- Plano de Resposta a Incidentes: Desenvolver e testar regularmente um plano de resposta a incidentes, que estabeleça os procedimentos a serem seguidos em caso de violação de dados, incluindo a notificação às autoridades e aos titulares dos dados.
- Atualizações e Patches de Segurança: Manter todos os sistemas operacionais, softwares e aplicativos atualizados com as últimas correções de segurança para evitar a exploração de vulnerabilidades conhecidas.
- Backup e Recuperação de Desastres: Realizar backups regulares de todos os dados críticos e armazená-los em um local seguro e isolado, garantindo a capacidade de recuperação em caso de ataque de ransomware ou outro desastre.
Tendências e desafios
O cenário de segurança de dados na saúde continuará evoluindo rapidamente nos próximos anos. Algumas tendências que merecem atenção especial incluem:
Inteligência Artificial e Machine Learning: Embora essas tecnologias ofereçam oportunidades para melhorar a detecção de ameaças e a resposta a incidentes, também criam novos vetores de ataque e desafios de privacidade. Os cibercriminosos estão começando a usar IA para criar ataques mais sofisticados e personalizados.
Internet das Coisas Médicas (IoMT): O crescimento exponencial de dispositivos médicos conectados, desde monitores de sinais vitais até bombas de infusão inteligentes, amplia significativamente a superfície de ataque. Cada dispositivo conectado representa um ponto de entrada potencial para invasores.
Telemedicina e Trabalho Remoto: A pandemia acelerou a adoção da telemedicina e do trabalho remoto no setor de saúde, criando novos desafios de segurança relacionados ao acesso remoto a sistemas críticos e à proteção de dados em ambientes domésticos menos seguros.
Ataques de Cadeia de Suprimentos: Os cibercriminosos estão cada vez mais focando em fornecedores e parceiros de tecnologia do setor de saúde, como demonstrado pelo ataque à Change Healthcare, que afetou milhares de organizações downstream.
Conclusão: a segurança de dados como um pilar da saúde
A segurança de dados no setor de saúde vai muito além da conformidade com as regulamentações. É uma questão de confiança, de ética e, acima de tudo, de segurança do paciente. Em um mundo cada vez mais conectado, a proteção das informações de saúde é um pilar fundamental para a prestação de cuidados de qualidade e para a sustentabilidade das instituições de saúde.
Investir em segurança da informação não é um custo, mas sim um investimento na proteção de vidas, na reputação da instituição e na continuidade dos negócios. Ao adotar uma abordagem proativa e estratégica para a segurança de dados, as empresas do setor de saúde podem não apenas mitigar os riscos de violações, mas também fortalecer a confiança de seus pacientes e se destacar em um mercado cada vez mais competitivo.
A Data Guide está comprometida em ajudar as empresas do setor de saúde a proteger seus dados e a navegar com segurança no cenário digital. Entre em contato conosco para saber como podemos ajudar sua instituição a fortalecer sua postura de segurança e a garantir a proteção dos dados de seus pacientes.