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O desafio da proteção de dados no setor financeiro

Com a digitalização acelerada dos serviços financeiros, proteger dados se tornou um dos maiores desafios enfrentados por bancos, fintechs e instituições do setor. Estamos falando de informações extremamente sensíveis — que vão de dados cadastrais a padrões de consumo e movimentações financeiras —, cuja segurança é fundamental para garantir não só a conformidade legal, mas também a confiança dos clientes.

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) trouxe um novo marco regulatório ao Brasil, exigindo das empresas uma mudança profunda na forma como lidam com dados pessoais. Para o setor financeiro, que já segue uma série de normas do Banco Central e do Conselho Monetário Nacional, isso significa operar em um cenário regulatório ainda mais exigente — e, muitas vezes, mais complexo.

Neste artigo, abordamos os principais riscos enfrentados pelas instituições financeiras, os requisitos legais que precisam ser observados e, sobretudo, caminhos práticos para implementar uma governança de dados eficaz, segura e em conformidade com a lei.

Os Desafios Específicos do Setor Financeiro

Volume e Sensibilidade das Informações

Cada transação bancária gera dados. E, em um banco de médio porte, isso pode representar o processamento contínuo de milhões de informações pessoais, como:

  • Nome, CPF, endereço e dados cadastrais;
  • Histórico completo de movimentações financeiras;
  • Informações sobre investimentos, patrimônio e crédito;
  • Padrões de consumo e comportamento.

Esses dados, além de valiosos, são extremamente sensíveis — e qualquer falha pode resultar em prejuízos financeiros e reputacionais severos.

Cadeia Complexa de Fornecedores

O setor financeiro depende de uma rede extensa de parceiros: processadores de pagamento, birôs de crédito, provedores de cloud, empresas de software, entre outros. Garantir a segurança dos dados ao longo de toda essa cadeia é um dos maiores desafios do setor.

Ataques Sofisticados e Persistentes

Instituições financeiras estão entre os principais alvos de cibercriminosos. Técnicas como ransomware, phishing direcionado e ataques persistentes avançados (APT) fazem parte do dia a dia das equipes de segurança. A proteção precisa ser constante, proativa e estratégica.

Inovação vs. Segurança

Com o avanço de soluções como open banking, PIX e blockchain, o setor vive uma pressão crescente por inovação. Mas, com ela, vêm também novos riscos. O desafio está em inovar sem abrir mão da proteção de dados.

LGPD + Regras Setoriais

Além das exigências da LGPD, as instituições financeiras precisam seguir regras específicas do setor, como:

  • Resolução CMN 4.893/2021 – Política de segurança cibernética;
  • Resolução BCB 85/2021 – Implementação segura do Open Banking;
  • Circular 3.909/2018 – Regras para uso de cloud computing;
  • Resolução 4.658/2018 – Gestão de riscos e segurança da informação.

Harmonizar todas essas normas exige uma atuação técnica e jurídica alinhada, com atenção constante às atualizações regulatórias.

Principais Riscos: Onde Estão as Vulnerabilidades

  1. Vazamentos de dados — Cartões, senhas, contas bancárias, históricos de crédito. O vazamento dessas informações pode gerar fraudes, danos reputacionais e multas pesadas.
  2. Ransomware — Criminosos criptografam os sistemas e exigem resgate. Em muitos casos, os dados são também copiados e ameaçados de vazamento.
  3. Engenharia social e fraudes digitais — Phishing, vishing, smishing: técnicas que exploram o fator humano e geram prejuízos bilionários, como apontado pela Febraban.
  4. Ameaças internas — Acesso privilegiado mal gerenciado ou funcionários despreparados representam riscos significativos.
  5. Vulnerabilidades em apps e APIs — Com o avanço do Open Banking e a integração entre instituições, cresce também a superfície de ataque.

Boas Práticas: Como Fortalecer a Proteção de Dados

1. Governança de Dados

  • Mapeie todo o ciclo de vida dos dados.
  • Classifique as informações por sensibilidade.
  • Crie políticas claras para coleta, uso e exclusão.
  • Nomeie formalmente um DPO (Data Protection Officer).
  • Estabeleça métricas para monitoramento contínuo.

2. Segurança em Camadas

Adote a lógica de “defesa em profundidade”:

  • Perímetro: Firewalls, IPS, gateways seguros.
  • Endpoints: Antivírus, EDR, autenticação multifator.
  • Aplicações: WAFs, testes de penetração e hardening.
  • Dados: Criptografia em repouso e em trânsito, tokenização.
  • Identidade: IAM, SSO e gestão de acessos privilegiados.

3. Consentimento e Transparência

  • Atualize as políticas de privacidade.
  • Crie mecanismos claros de consentimento.
  • Ofereça um portal onde o cliente possa exercer seus direitos.
  • Documente as bases legais para cada tratamento.

4. Gestão de Terceiros

  • Avalie fornecedores com critérios de segurança.
  • Inclua cláusulas específicas em contratos.
  • Realize auditorias regulares.
  • Estabeleça planos de contingência.

5. Resposta a Incidentes

  • Treine uma equipe de resposta.
  • Estabeleça um plano de ação detalhado.
  • Tenha modelos de comunicação para autoridades e clientes.
  • Realize simulações periódicas.

Ferramentas e Soluções Recomendadas

  • Descoberta de dados: Microsoft Purview, Varonis.
  • Criptografia e tokenização: TLS, AES, HSMs, gestão de chaves.
  • DLP (Data Loss Prevention): Monitoramento de movimentações sensíveis.
  • Análise de comportamento (UEBA): Para detectar acessos anômalos.
  • IAM/PAM: Controle rigoroso de identidades e acessos.

Checklist Final de Conformidade

✅ DPO designado
✅ Relatórios de impacto (RIPD)
✅ Criptografia aplicada em dados críticos
✅ Consentimentos documentados
✅ Fornecedores avaliados e auditados
✅ Resposta a incidentes estruturada
✅ Colaboradores treinados

Conclusão: Dados são um Ativo. Protegê-los é uma estratégia.

Mais do que uma obrigação legal, proteger dados se tornou um diferencial competitivo. Em um ambiente de negócios cada vez mais digital, clientes valorizam e confiam em instituições que cuidam bem das suas informações.

A maturidade em proteção de dados deve ser contínua. Requer revisão constante, investimento em tecnologia, capacitação de equipes e colaboração com o ecossistema.

E acima de tudo, exige liderança comprometida com a segurança porque, no fim das contas, proteger dados é proteger a base do relacionamento com o cliente.

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